sábado, 25 de junho de 2011

UMA RÁPIDA OBSERVAÇÃO

UMA RÁPIDA OBSERVAÇÃO


O período de formação em qualquer ramo de atividade humana é o melhor tempo de aprender. Claro que o aprendizado é continuado ao longo de todo o período de vida ativa do novo profissional. Entre nós da Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro, não poderia ser diferente. Há uma grande falácia em se afirmar que o período de formação é uma ilusão, um teatro, e que tudo o que foi aprendido deve ser esquecido, ao cruzar o Portão da Guarda do Quartel. Aqueles que proferem tal tolice, falam por vaidade, gabolice e vedetismo. Mesmo assim causam estragos. Há sempre aqueles que sintonizam e fazem da tolice ouvida verdade, tornando-se seguidores mansos e sem reflexão. Quando bastaria apenas avaliar sumariamente a figura do prosaísta. Não há grade curricular de qualquer formação que seja capaz de prever todas as possibilidades futuras que a vida profissional oferece. A vida é dinâmica.
Observando os meus alunos, é bom vê-los na luta do seu dia a dia. Captar as expressões de esforço estampada no rosto de cada um é muito gratificante. Vejo-me um motivador. E nesta visão, recompensado é o meu empenho por constatar a evolução, posso dizer, de todos. Vejo minha aula  como um ato de Servidão a Deus, um sacerdócio. Vejo também o nosso momento como uma Festa onde todos são bem-vindos, acolhidos e presenteados. Na realidade, embora possa haver um foco prático que é a preparação para um teste que enseja aprovação, eu preparo meus alunos para vida. Para que possam ter vida longa e saudável. Também me esforço para implantar um clima pedagógico onde os sentimentos de solidariedade e altruísmo possam ser externados e harmonizados naturalmente com o respeito, a hierarquia e a disciplina. Acredito que temos avançado com segurança nessa direção. Penso que não seria precipitado afirmar hoje que já nos gostamos. Agradeço sempre a Deus a oportunidade que tem me dado. Considero que os meus alunos são todos presentes divinos em minha vida. São também a Matéria Prima na qual eu preciso imprimir algo valoroso, como cinzela na pedra bruta o artista a imagem bela. Dentre os meus alunos um número expressivo é de mulheres, chamo-as de guerreiras. Sem dúvida que para alguns, mulheres e homens, o regime pedagógico da formação de Soldado PM é algo bem diferente da rotina anterior de cada um. Acredito até que para as famílias de cada um seja também algo preocupante, principalmente para os pais, os maridos, noivos e namorados de nossas alunas PM. É normal também ver nascer e prosperar sentimentos. Desde a chegada da mulher à PMERJ muitos casamentos já aconteceram, inclusive entre pessoas de círculos diferentes. Gostaria de ver mais cordialidade entre as pessoas e melhor educação no trato e na linguagem. É normal que nos ambientes que convivem homens e mulheres, a presença de um aprimore o comportamento do outro. No entanto, embora a solidariedade e o altruísmo devam existir entre todos, momentos há em que cada um deve realizar a sua tarefa, encarar a dificuldade e treinar a sua capacidade de julgamento, ação e reação e aprender a superar a adversidade. Em princípio nenhum obstáculo ou tarefa é oferecido ao aluno ou a aluna que seja insuperável. Mesmo que algum companheiro, nesse caso, ofereça ajuda, cada um, conscientemente, deve agradecer e recusar, por entender que a circunstância faz parte de sua preparação. A Segunda Companhia, pela segunda vez realizou O Circuito das Três Colinas (sucessão de elevações que nasce atrás do PEC e progride por trás dos Estandes de Tiro). Desta vez teve a companhia de outra Cia. Mais recentemente outra Cia fez o mesmo percurso. Nosso terreno é maravilhoso porque reproduz com perfeição a topografia do Estado do Rio e da Cidade do Rio de Janeiro. O que não foi gratificante ver muitas alunas serem discriminadas pelos alunos com o consentimento e solicitação das mesmas. A bem da verdade, em minha Cia a ocorrência do fato foi quase nula. O instituto da discriminação é amplo e sutil. Nós discriminamos pelo desprezo ou pelo excesso de prezar. O que vi foi vários exemplos de declaração de incapacidade viajando na doce ilusão da solidariedade e dos enganos da feminilidade. Muitas alunas sendo praticamente carregadas por gentis cavalheiros, em situações tranqüilas e sem risco, totalmente impróprias e desnecessárias que não ensejavam tal procedimento. O que ficou patenteado foi a discriminação da mulher pela própria mulher.
 Existe uma frase histórica que diz assim: “Endurecer sim, mas sem perder a ternura, jamais.” Rogo a Deus que a mulher na PMERJ saiba sempre discernir sobre a sua condição de mulher e de profissional. Saiba ser encantadora sem abdicar da eficiência. Saiba respeitar a si mesma e valorizar o esforço de muitas mulheres que ao longo da história lutaram como verdadeiras guerreiras para que a igualdade atual fosse conquistada.
 Só como curiosidade, a primeira mulher que competiu em uma Maratona (Corrida de 42,121km), distância reservada aos competidores masculinos, teve que se travestir de homem.
 A mulher para ser capaz não precisa se masculinizar nem adquirir dos homens seus defeitos. Como também para ser feminina não precisa virar lesma.
 A nossa Fem pode ser Ótima Profissional e uma Bela Mulher. 

8 comentários:

  1. É muito curioso o fato de não ter havido nenhum comentário ainda, siquer visitação, depois de tempo considerável da postagem do texto. Sinceramente eu esperava algo diferente.

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  2. Ótimo, Cel.

    Mas na realidade o senhor é um grande cavalheiro. Esse “cavalheirismo” que o senhor presenciou, além da discriminação implícita, tem mais a ver com segundas intenções que outra coisa. Eu mesmo já fui diversas vezes discriminado em função de FENS, simplesmente por ser homem. Isso tanto por parte de companheiros como por parte de superiores. No rancho, por exemplo, sempre há quem fique “cheirando” as FENS e buscando beneficiá-las por sua condição – e isso nada tem haver com militarismo. Mas, graças a Deus, sou casado e não tenho essa necessidade. Trato uma FEM como soldado que é – nem menos, nem mais. Estamos todos em formação!

    HONRA, SEMPRE!

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  3. Cmt, estou tendo muita dificuldade em postar um comentário. Não sei se é um caso isolado ou os demais camaradas também passem pelo mesmo problema. Talvez isso esteja acarretando a falta de postagens. Estou mais de uma hora pra postar apenas três comentários. Na hora de enviar, dá erro!

    “Aceitai a minha correção, e não a prata; e o conhecimento, mais do que o ouro fino escolhido. Porque melhor é a sabedoria do que os rubis; e tudo o que mais se deseja não se pode comparar com ela. O temor do SENHOR é odiar o mal; a soberba e a arrogância, o mau caminho e a boca perversa, eu odeio. Então eu estava com ele, e era seu aluno; era cada dia as suas delícias, alegrando-me perante ele em todo o tempo.” Provérbios 8. 10, 11, 13 e 30.

    HONRA, SEMPRE!

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  4. Gostei muito do artigo e embora não pertença a categoria militar, considero que a mulher não tenha que ter regalias pelo simples fato de pertencer ao gênero feminino, mesmo porque somos guerreiras e completamente capazes de cumprir com todas as atividades que nos são impostas independente da profissão. Quanto as que se deixaram ajudar, acredito que se o esforço pessoal se constitui em empecilho é melhor trocar de profissão e se dedicarem a profissões que não exijam tanto esforço físico.

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  5. Simone (2º Pel 2ª Cia)11 de julho de 2011 às 21:48

    Boa noite querido Mário,

    fiquei com meu micro estragado por duas semanas, por isso, não pude comentar esse texto postado ainda no começo do mês.

    Pra começar, este texto traz várias polêmicas que vivemos durante nossa formação. Ao dizer que muitos acreditam que o ensinamento transmitido no CFAP seria apenas teatro e ilusão, eu como aluna posso dizer o que realmente ocorre segundo minha opinião. Certos instrutores Coronel, infelizmente nos passam essa informação. Tenho medo de dizer isso e ser condenada. Sendo bem breve então,resumo isto dizendo que poucos são aqueles que vem para transmitir experiências e sabedorias. E na maioria das vezes, o aluno prefere seguir orientações negativas quanto à profissão a ouvir o que os sábios tem a dizer. Os mesmos já vem moldados de casa e com desejo de cultivar os erros dos que estão na ativa. A atração pela profissão muitas vezes não ocorre por motivos de prazer e sim por facilidades e o poder que a mesma proporciona.

    Trabalhar com pessoas é muito complicado devido a essas bagagens que cada uma carrega. Interpretar então seus sentimentos,é mais complicado ainda. Poder discenir quem irá para o bom caminho e quem irá para o mal, mais difícil ainda, pois a cada passo dado todos tem oportunidades para mudar a sua trajetória de vida. O que parecia ser o "bonzinho" se corrompe e se torna mais um "colarinho branco sanguessuga". Julgar só cabe a Deus. Observar cada um e poder orientar, só o faz quem acredita realmente que isso valerá a pena.Vejo que o senhor tem essa preocupação conosco. Impossível orientar um por um. Mas aquele que deseja é muito bem orientado em cada uma das mini palestra que o senhor ministra. O senhor é um grande motivador para aqueles que conseguem perceber. Assim como eu, há muitos outros alunos que o admiram pela força e energia que consegue nos transmitir. Espero que possas perceber que no meio dessa multidão, há muitos esperando por mais um conhecimento vindo de ti. Que ao olhar para essa multidão, o senhor perceba que é necessário continuar a instrução, pois muitos policiais querem ser formados. Não apenas um treinamento para o TAf, mas sim para uma vida mais saudável.

    Obrigada por nos considerar presentes divinos em sua vida enviados por Deus. Maior presente ainda, é ter alguém que instrui com amor e prazer.

    Quanto a nossa rotina, nossa como mudou.Acordar todos os dias num horário em que nosso corpo não se adapta devido ao cansaço e ao clima muito frio, ter que demonstrar vibração o tempo todo, não perder a linha, utilizar sempre palavras mágicas antes não usadas - Sim Senhor, Não Senhor- entre outras coisas, são tarefas nunca feitas antes. A nossa família se preocupa em tudo conosco. Nosso corpo anda cansado, nossa mente se torna lenta, nossa fisionomia muda. Nosso psicológico fica frágil. o apoio dos mesmos é essencial na luta contra esses males que nos atacam.


    (continua)

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  6. Simone (2º Pel 2ª Cia)11 de julho de 2011 às 21:52

    Bom, deixei para o fim, o assunto mais complexo: nós FEM...uma incógnita na área militar?!

    A última subida ao morro eu não estava presente, pois estava escalada no futebol. Porém, entendo a preocupação. O edital se abre e milhares de mulheres decidem ingressar na carreira militar. E não é uma carreira comum e simples. O policial militar passa por diversas ocasiões em que não há tempo de se ter charme, frescuras, medo. Ser habilidoso e audaz é essencial. Muitas companheiras colocam barreiras em sua frente pois sabem que naquele instante tem alguém ao lado que poderá a socorrer. Se a mesma ali estivesse de frente a mesma barreira, porém sabendo que está só, tenho certeza que não pensaria duas vezes: lutaria com toda força e daria o melhor para sair dali alcançando determinado objetivo.

    Coronel, posso dizer por mim. Embora tenhamos contato umas com as outras, não tem como saber o que cada uma pensa ou almeja na PMERJ. Eu sei que é uma profissão um pouco árdua e complicada, não para uma mulher, pois sendo profissionais me sinto igual a um homem, mais sim pelos perigos que a mesma nos colocam. Eu sou formada em enfermagem, nunca imaginei entrar na PMERJ. Porém, a partir do dia que fui chamada a fazer meus exames para seleção, entrei de cabeça. Não desisto desses obstáculos que me aparecem. São até bons, pois demonstro pra mim mesma o quanto sou capaz. O quanto posso ir além. Sinto muita dificuldade na corrida, isso me desanima as vezes, pois acreditava que não seria difícil para meu corpo se adaptar.Mas tenho força de vontade e irei destruir qualquer um desses obstáculos.

    Sinto muito por aquelas que desistem ou nem tentam. Se acomodam no tempo como lesmas. Não é difícil, basta querer. Acredito, na minha opinião, que muitas ainda estão iludidas com o tal teatro:"-lá fora não terá nada disso aqui".Quando acordarem e saírem do teatro, sentirão falta das cobranças, do conhecimento, falta de não ter aproveitado o curso para sua formação. Não conseguirão ser boas profissionais e ficarão apenas com a gentileza e ternura de mulher.


    Quero muito que todos(as) se enquadrem na carreira militar com profissionalismo e dedicação, para que o tombo lá fora não seja assustador. Que as companheiras tenham mais força de vontade de ultrapassar os obstáculos sem pedir ajuda. Que os companheiros parem de oferecer ajuda sem nem mesmo deixar a FEM lutar sozinha.

    Que a FEM prove que ela pode ser um Soldado da PMERJ com profissionalismo sem perder sua ternura e sua feminilidade.

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  7. Cel. Parabéns,belas palavras! Confesso que tenho grandes dificuldades para realizar algumas atividades mais dinâmicas como :Saltar muro,subir árvore...Mas me sinto mais capaz,estou tentando superar.Fato curioso,que nas vezes que recebi ajuda dos rapazes para pular os muros ali na área da quadra,fiquei com os joelhos "ralados" e a perna roxa!!Mas nas vezes que tentei sozinha não me aconteceu nada,e fiquei contente por ter conseguido!O Sr. está correto em exigir das Fens,somos muito capazes também,mas as vezes nos acomodamos e esquecemos que somos "guerreiras".Em nossas atividades vou tentar lembrar das palavras do texto para alcançartodos os objetivos.

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  8. Boa noite, Tatiane! Espero que esteja aproveitando a folga merecida do fim de semana. Na nossa profissão temos que nos acostumar com as privações de lazer. Quando todos se divertem ou festejam, o policial trabalha mais. Por isso precisamos de perícia nas decisões de utilização do nosso tempo livre. Obrigado pelo comentário realizado. Mesmo que ele fosse contraditório ao meu pensamento, também seria acatado respeitosamente. Sabe, Tatiane, há muita discriminação preconceituosa contra a mulher. Como uma propaganda recente que perguntava: "Onde você esconde o seu preconceito?", as vezes a mulher é discriminada de forma sutil e não se dá conta, julga até que está sendo prestigiada. Você, como tenho observado, está em outro nível. Parabens. Conto com Você.
    Um forte e terno abraço.

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